quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Isso não é um poema

Quando você partiu, demorou um longo tempo até que eu me acostumasse com as lembranças espalhadas ao sabor do vento, e toda noite tua lembrança vinha me ninar. Depois de um tempo passei a notar que não eram as lembranças mais bonitas que vinham primeiro, apenas aquelas em que havia muito suor e pouca roupa. Mas bastava, ainda era o suficiente.
E quando me perguntavam sobre teu retorno, bem lá no fundo te imaginava com as malas nas mãos, voltando pra ficar, mesmo que da minha boca só saísse: É definitivo, não haverá retorno algum! E assim os dias se arrastavam, teus sinais de fumaça chegavam dia após dia e era como se isso me bastasse.
De repente o homem nú das minhas lembranças foi se tornando cada dia menos significante, como se nunca eu o tivesse conhecido de fato, e quando pude enfim te ver de novo, sem o ódio do abandono, vi que não restava mais nada, aquele turbilhão de emoções e sentimentos que só você sabia ligar dentro de mim havia desaparecido por inteiro, quando ouvi de novo a pergunta que me fazia te ver voltando pra mesma casa antes tão vazia e pronunciei a mesma resposta ensaiada e pela primeira vez na minha vida, ela não era mais uma mentira.
Nunca desprezei tanto o sentimento de liberdade, nunca me aborreci tanto por ter o que queria, nunca desejei tanto mentir pra mim mesma. Foram dias de choro, musicas de gosto duvidoso e, claro, xingamento a coisas triviais.
Pela primeira vez em anos eu não sofria a sua falta, mesmo grande parte de mim querendo lamenta-la, apenas pra me sentir humana mais uma vez...

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